Casa de Ayrton Senna e palco das mais célebres disputas da Fórmula 1 também é território de um SUV
Uma típica tarde de verão paulistano, sol cozinhando o asfalto sem dó e nenhuma nuvem no caminho. O silêncio do interior do famoso autódromo José Carlos Pace, Interlagos para os íntimos, era rasgado pelo ronronar inebriante de um motor V8 borbulhando no pit-stop.
Muitos carros passaram pela minha mente naquele momento, por conta do volume daquele ronco. Poderia ser uma versão apimentada de um cupê esportivo ou até mesmo um stock car. Mas não, era um SUV de R$ 539.100.
Mais especificamente rasgava a reta dos boxes um Jaguar F-Pace SVR em uma belíssima cor azul conduzido com maestria pelo piloto da equipe ZEG iCarros Jaguar Brazil, Sergio Jimenez, campeão do Jaguar I-Pace eTrophy em 2019.
A sonoridade do V8 Supercharged 5.0 de 550 cv e 69,3 kgfm de torque parecia afinada por Beethoven e era capaz de acordar até o mais sonolento dos moradores dos prédios ao lado do circuito. Com capacidade de chegar aos 100 km/h em 4,3 segundos, era também responsável por tirar alguns palavrões de medo daqueles que se aventuraram a dar uma volta com Sérgio.
Para a experiência ir além do visual e do sonoro, logo me posicionei atrás do volante do SUV grande de 4,73 m de comprimento, 1,67 m de altura, 2,07 m de largura e 2,87 m de entre-eixos. Afinal, se ele estava na mais famosa pista do Brasil, seria capaz de honrar os traçados de Senna?
Patada
Tudo começa com a posição de dirigir do F-Pace SVR. Por ser um SUV você se senta mais alto do que o de costume, porém o interior desse Jaguar parece abraçar como um esportivo, além de permitir regular o banco em posição baixa. O volante pequeno e o console envolvente me fez lembrar o esportivo raiz F-Type.
Capacete na cabeça, motor ligado e borbulhando, câmbio em D e o SUV e eu estávamos prontos. Na primeira acelerada, uma patada forte como de um jaguar. O corpo cola nos bancos concha revestidos de couro caramelo com uma belíssima costura diamante.
Ecoando pelos muros e paredes da reta dos boxes, o som do motor V8 entorpecia a cada estampido que os escapes produziam durante a troca das oito marchas da transmissão automática. Rápida, a transmissão deixa o motor sempre nas faixas de giro mais alta para aproveitar a força ao máximo.
Vai que eu aguento
A primeira curva vem leve, com tocada mais contida para entender os limites do carro. E quem disse que o F-Pace estava satisfeito? Ele pedia mais pedal, agarrava o asfalto com seus pneus Pirelli calçados calçando gigantescas rodas de 22 polegadas.
O centro de gravidade baixo provido pela construção em alumínio fez do F-Pace SVR um carro muito ágil em curvas. Diferentemente do que é esperado por um SUV alto e pesado como ele, o deslocamento de massa é rápido, mantendo o equilíbrio em curvas, mesmo em desvios rápidos de trajetória.
“O SVR me impressionou porque nas curvas ele rola pouco, balançando pouco nas mudanças de direção. É algo fantástico pelo tamanho do carro, especialmente por ser um carro família. Ele tem uma estabilidade enorme, além da potência semelhante a de um carro da stock-car”, comenta Sérgio Jimenez.
A combinação desse centro de gravidade mais baixo aliado ao exagero de potência faz com que esse Jaguar que carrega cinco pessoas e 650 litros de tralha no porta-malas se comporte quase como um sedã médio esportivo. Mesmo em frenagens fortes, a carroceria não mergulha e o F-Pace SVR não desgarra.
A direção é comunicativa é rápida, além de bastante direta, tendo curso reduzido para melhorar suas reações em curvas. Outro truque que ajuda nesse comportamento é a tração integral. Apesar de naturalmente traseiro, o F-Pace SVR tende a revelar um comportamento neutro quando exigido ao limite.
Conclusão
A sigla SUV vem do inglês para Veículo Utilitário Esportivo, mas poucos modelos da categoria realmente levam à sério o esportivo da sigla. O F-Pace SVR mostra que pode andar em um circuito como Interlagos como um verdadeiro esportivo e ainda ser prático o suficiente para todas as demandas de um utilitário.
Ele joga contra todas os clichês dos SUVs, sendo verdadeiramente esportivo e refinado em doses semelhantes. Some isso ao orquestral som do motor V8 e fica fácil pensar que Ayrton Senna se divertiria muito ao pilotar um carro assim em Interlagos, assim como Sérgio Jimenez e eu nos divertimos.