Sérgio Jimenez finalmente pôde soltar da garganta o grito de campeão. O piloto nascido em Piedade alcançou uma conquista inédita para o automobilismo brasileiro ao se tornar o primeiro campeão do Jaguar I-Pace eTrophy na temporada inaugural do campeonato mundial de carros de turismo elétricos, evento que faz parte do cronograma da Fórmula E. Em dez corridas disputadas, Jimenez só não subiu ao pódio em uma delas, na etapa de Sanya, na China. Foram sete pódios e três vitórias: em Roma e na rodada dupla que decidiu o campeonato, em Nova York.
Jimenez confirmou a conquista do título no último sábado nas ruas do Brooklyn, com a vitória conquistada na esteira de mais uma dobradinha brasileira, com Cacá Bueno em segundo. O resultado se repetiu no domingo, o que garantiu o carioca como vice-campeão, coroando um ano absoluto da Jaguar Brazil Racing, dona de sete poles e seis vitórias na temporada, que começou na Arábia Saudita, passou por México, Hong Kong, China, Itália, França, Mônaco, Alemanha e teve seu desfecho na capital do mundo neste fim de semana.
Direto de Nova York, Jimenez falou à Newsletter GP sobre a conquista de um título que marca o apogeu da sua carreira como piloto. Multicampeão no kart e primeiro campeão da F-Renault no Brasil, em 2002, Sérgio trilhou o caminho do automobilismo na Europa, correu na F3 Espanhola, na antiga GP2 e na A1 GP antes de passar de vez para os carros fechados.
Na Stock Car, foi o primeiro piloto a ganhar uma corrida pela Voxx Racing, hoje a bicampeã Cimed. Merecia mais oportunidades em razão do seu talento, mas acabava sofrendo com a falta do combustível financeiro. No entanto, quando tinha chances, fazia bom trabalho, seja na Stock Car ou mesmo na Porsche Cup, em uma parceria que rendeu vitórias ao lado de Rodrigo Baptista.
Até que em 2018 veio a chance de correr no primeiro campeonato de carros elétricos de turismo: o Jaguar I-Pace eTrophy. Em união com time brasileiro e tendo ao seu lado o pentacampeão da Stock Car, Cacá Bueno, Jimenez desbravou o planeta para, depois de oito meses, comemorar a conquista de um título mundial em Nova York, que foi palco da sua melhor jornada em toda a temporada.
“Foi um fim de semana perfeito. Nas seis vezes em que fui para a pista, seis vezes fui o mais rápido. Fui pole, venci duas corridas. Cheguei aqui muito focado, mentalmente muito forte, e funcionou bem, a gente sabe o quanto isso é importante no automobilismo. Dominei de uma maneira que desestabilizou a todos e acho que isso ficou até mais fácil”, destacou.
“A temporada, no geral, foi muito disputada, e agora parece que foi tudo fácil, maravilhoso, mas não foi assim... Foi um ano bem atribulado, era tudo novo para todos, claro, pistas novas, todas de rua, o que dificulta muito e não permite erros porque, se você quer abusar um pouquinho, você tem o muro para te descontar. Então isso dificultou a todos, não só a mim”, explicou o campeão, que ressaltou a regularidade.
“O campeonato veio na minha constância. Num momento em que não estava rápido, não estava bem, o carro não funcionava, e aí conseguia tirar um pódio, marcar pontos importantes. Para mim, na minha opinião, a etapa que definiu que eu seria o campeão foi Hong Kong. Tive um problema técnico na classificação, não classifiquei. Tive chance de largar na primeira fila, estava muito bem ali com o Cacá, e acabei largando em último. Modéstia à parte, fiz uma prova excelente e arranquei um pódio dali na última curva, e esses 11 pontos foram muito importantes para chegar com vantagem aqui na última etapa. A partir dali, o pessoal viu que eu estava muito forte, que não estava para brincadeira”, comemorou.
Jimenez explicou as complexidades de uma categoria ainda em início de desenvolvimento e com um carro também nesta fase. Por conta do tamanho e do peso, de quase 2 toneladas, o maior desafio para os pilotos foi o de ultrapassar seus concorrentes nas pistas. “Fui um dos poucos que consegui fazer ultrapassagens na categoria, o que não é fácil, o carro é muito igual. Muito similar, grande, um carro que freia bem, então ficou apertado em pistas de rua, né? Claro que passa, mas é apertado”, disse.
Depois de uma campanha vitoriosa, Jimenez demonstra muita gratidão. “Cara, foi fantástico. Só tenho a agradecer, muito, muito... À ZEG, ao Daniel [Rossi] e todos da ZEG, a todos para quem levei o projeto e acreditaram nele. A gente conseguiu, com o Cacá, com a iCarros, com a Jaguar Brasil, com o Frédéric [Drouin], o presidente, fazer isso acontecer. Acho que foi um trabalho a quatro mãos e que deu um resultado que não poderia ter sido melhor: campeão e vice, vencendo mais corridas, fazendo mais poles”.
“Agora é dar sequência. A gente tem muita coisa boa, muita coisa que vai vir, que vai acontecer, então vamos continuar trabalhando forte, seguir o trabalho árduo de 25 anos de automobilismo, não saímos do nada. É a consagração esse título, que vem no melhor momento da minha carreira”, comemorou o grande campeão.